Florianópolis (15.01.2014)
- O Corpo de Bombeiros e o Instituto Geral de Perícias (IGP) de Santa
Catarina divulgaram, nesta quarta-feira, 15, o laudo sobre o incidente
químico ocorrido em São Francisco do Sul no dia 24 de setembro de 2013,
provocando uma gigante nuvem de fumaça na cidade. O documento aponta o
acidente como uma decomposição auto-sustentável do fertilizante que
estava no depósito de uma empresa privada, tendo como causa mais
provável uma reação do elemento cloro presente no próprio fertilizante
com a umidade elevada dentro do galpão.
O laudo confirma também que o imóvel, na
data do acidente, estava em situação irregular, pois não possuía
projeto preventivo contra incêndio aprovado pelos bombeiros, nem
vistoria para habite-se ou atestado de vistoria para funcionamento. O
diretor-geral do IGP, Rodrigo Tasso, afirma que o documento, com cerca
de 150 páginas, foi entregue para a Polícia Civil de São Francisco do
Sul e para a Polícia Federal de Joinville, que darão continuidade às
investigações.
O perito criminal Rogério de Medeiros
Tocantins explica que, de acordo com a bibliografia consultada para o
laudo, o fenômeno decomposição auto-sustentável nunca tinha ocorrido no
país, sendo o caso de São Francisco do Sul o primeiro brasileiro. A
média mundial é de um caso semelhante a cada três anos. Rogério
acrescenta que nem todos os fertilizantes são capazes de sofrer esse
tipo de decomposição.
A decomposição térmica desse tipo de
fertilizante, em geral, é iniciada por uma fonte externa de calor. Mas
no local não foram encontrados elementos técnicos que sugerissem que a
reação em São Francisco tenha se iniciado por fonte externa. A absorção
de umidade, ou seja, a absorção de água presente na atmosfera, também
promove a degradação física do fertilizante, podendo gerar uma solução
ácida. O fertilizante ficou entre 20 e 25 dias no galpão, que precisaria
de melhores condições para controle da umidade, e essa reação pode ter
ocorrido lentamente nesse período.
“Conseguimos identificar elementos
técnicos que apontam como causa mais provável a formação de uma condição
ácida e/ou a presença de elementos catalíticos, como por exemplo o
cloreto. Foi constatado que esse fertilizante, na sua composição, possui
o elemento cloro, ligado na forma de um sal, que em presença de umidade
se dissocia e forma um cloreto. Esse cloreto em condições ácidas se
torna mais suscetível a desencadear uma decomposição térmica que pode
desenvolver para um decomposição auto-sustentável”, explica o perito
Rogério. Ele ressalta, no entanto, que não se pode descartar a presença
de outros contaminantes – a Polícia Civil ainda vai investigar o que
estava armazenado no galpão antes do espaço receber o fertilizante.
Legislação
O subcomandante-geral do Corpo de
Bombeiros, coronel Gladimir Murer, acrescenta que além de participar da
elaboração do laudo, a partir de agora a corporação assumiu o trabalho
de propor mudanças na legislação para controle do armazenamento desse
tipo de fertilizantes e de outros produtos perigosos. “Hoje, no país,
nós temos uma legislação bastante forte na questão de transporte de
produtos perigosos. No entanto, quanto ao armazenamento, nós temos a
necessidade fortalecer a legislação e reforçar o controle. Vamos
trabalhar para produzir minutas de legislação para serem submetidas aos
órgãos competentes e tentar transformá-las em instruções normativas, não
só para Santa Catarina, mas para todo o país”, destacou o coronel
Murer.
Questões ambientais
O laudo aponta, ainda, que foram
evitados grandes danos ambientais em São Francisco do Sul. Foram
avaliados impactos na flora, na fauna e na água da região. “Na
vegetação, verificamos um dano na borda na floresta, um dano mínimo em
que a vegetação se recupera naturalmente. E em relação aos corpos
hídricos, a água contaminada escoou por dois canais artificiais. Essa
água seria levada pelos canais artificiais para cursos naturais, um
deles no meio do manguezal. Mas foi feita uma barreira de contenção e o
material foi coletado por caminhões-pipa e direcionado para tratamento
em empresas especializadas“, explica o perito criminal Rafael Salum de
Oliveira.
O acidente
Na noite de 24 de setembro de 2013, uma
carga de fertilizante à base de nitrato de amônio sofreu uma reação
química em um galpão distante dois quilômetros do Porto de São Francisco
do Sul, no Norte do Estado, provocando uma grande nuvem de fumaça. No
galpão estavam armazenadas cerca de 10 mil toneladas do fertilizante.
Desde o início, as ações dos órgãos públicos foram concentradas na
retirada das pessoas dos imóveis localizados no entorno do local.
O registro da eclosão do acidente foi às
22h25 do dia 24 de setembro, sendo que a chegada do Corpo de Bombeiros
ocorreu às 22h55 e o início do combate entre 23h30 e 0h30. Foi preciso
um tempo para identificar o produto e os procedimentos a serem adotados.
Foram 200 bombeiros trabalhando na operação que durou quase 60 horas. A
reação química foi interrompida às 6h do dia 27 de setembro. A situação
só foi controlada com o resfriamento do galpão. Os bombeiros
encharcaram a carga de fertilizantes para fazer a contenção do calor e,
consequentemente, evitar explosões e danos ambientais. Foram utilizados
cerca de dois milhões de litros de água na operação.
Abaixo segue link da apresentaçao feita durante a coletiva:
http://pt.slideshare.net/governosc/relatrio-sobre-incidente-qumico-em-so-francisco-do-sul?utm_source=slideshow02&utm_medium=ssemail&utm_campaign=share_slideshow
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